Não queria falar de mim, juro. Mas quando percebi as
palavras já tinha saltado irremediavelmente do meu dedo para a tela. Não ria de
mim, prometa. É que estou só e faz algum tempo que notei essa ausência. Não a
sua, evidente. Não quero cobrar nada, de você jamais. Só que... Deixe quieto.
Melhor silenciar não é? Afinal, já faz tanto...
É que olhei o calendário e vi que aqui marca um ano, vai
marcar, ainda há um certo ar de futuro, de antecipação, na contagem. Sim, sei,
sou ansiosa, sabemos disso. Mas a verdade, sempre tem uma verdade, é que eu não
consigo não pensar, não sentir e nem sei o que diabos ei de sentir.
A síndrome se chama poetizar, já li a respeito. Os sintomas?
A saudade desmedida, o amor incompreendido, não realizado e a ausência. Junta
tudo, bate por três minutos, reserve na geladeira... Ah não, isso já é a
receita de como fazer uma canção desafinada. Desculpa. Não era a intenção
antecipar... Quer dizer, sou ansiosa lembra. Acabei misturando tudo.
A receita desandou, o remédio acabou. As rimas se foram todas
pelo ralo e o que sobrou persiste.
Eu quero dizer que sinto terrivelmente sua falta, mas não
farei nada para resolver a questão. Acho que o terrível soou meio exagerado,
mas o que é o amor se não um certo exagero.
Ah, pois bem, estamos falando de amor. Estranho, falta algum
encaixe no adjetivo, alguma conexão com a realidade. Como amor? Se falta tempo,
presença...Fácil gostar assim.
É, seu sei. Não me julgue. Vamos admitir, vivo disso, da instantaneidade
de sentir, pisco para o pôr do sol e bum, apaixono. Esqueço, e você também, na
lua seguinte. Pois há de se demorar para usar algo como amor. Ainda acho que
falta encaixe. Não encontrei expressão melhor. Não quero me desculpar, de novo
não. Sempre desculpas, insinceras, quase sempre. Esperando, impacientemente,
que você só não perceba as confusões, ou perceba, e me abrace forte, como
quando nos encontramos. Olhe bem para o calendário. Talvez... Quem sabe...
Ninguém.
Você está aí e lá, bem no alto. Sei que vai mais além. Sei
sim. Se de poucas coisas, então, de novo, me deixe. Você vai.
E eu também. Gosto de voar, com asas e sem elas. Sabe que o
meu destino é infinito.
Dizem que as paralelas...Bem, dizem tanta coisa. E eu já
coloquei mais reticências que já me esqueci.
Dói e faz falta, era isso afinal.. O meu desejo é um pouco surdo e está
ficando mudo. Logo será silêncio. Para isso, porém, não tenho pressa. Deixe,
deixemos.
Ah de passar e se persistir..
.
As palavras, irremediáveis, a tela e qualquer inspiração
devem resolver.
Se não, uma flor. Ou várias. Como as que você jura ter
visto. Em mim.