segunda-feira, 27 de maio de 2013

Pela rua povoada

Por Ana Luiza Rigueto

Esqueço tudo que lembrar devia, porque te li e lembro esta leitura. Na verdade, isto são versos de um dos meus poemas preferidos. Queria muito tê-los escrito eu mesma. Talvez os tenha posto logo ali para, por um instante, eles serem meus, meus, meus. Desde uns dias que eu tô quicando por dentro. Uma ameaça de ebulição que não evolui. Pareço prestes a ter ímpetos criativos, e nada. Deve ser porque esqueço tudo que lembrar devia.

Achei graça de lançar um blog sob certo ar de coisa oficial, que após alguma preparação vem a público. Deu até um nervosinho na gente. Amigos falando que gostaram, conhecidos aprovando. Foi engraçado. Só um blog, eu sei, mas foi engraçado.

Tão alva essa riqueza a espojar-se nos circos sem perda ou corrupção. Outros versos de um de meus poemas preferidos. Outro dia pensando neles eu entendi alguma coisa, apreendi mesmo. Não sei se sou capaz de transcrever o que foi, mas foi luminoso – alvo e rico.

“Tão alva essa riqueza
a espojar-se nos circos
sem perda ou corrupção.”

Vai o meu elefante, pela rua povoada

Como se uma riqueza tão plena e sincera tivesse sido alcançada e, assistida de perto e por muitos, fosse submetida ao desgaste, e se misturasse, e convivesse, e se expusesse sem se perder ou sentir-se espoliada. Uma coisa naturalmente corajosa e disposta. Talvez eu esteja descrevendo alguém, não sei, talvez eu tenha personificado a riqueza. Consigo imaginar um sorriso tão bonito que reja todas as situações, e mova o mundo, porque não se abala. Porque esse sorriso, apesar de toda a fraude, consegue ser.
 
Espero poder ser com essa riqueza. E exprimir como seu eu tivesse sorrindo esse riso forte. E espojar-me sem perda ou corrupção.


                                                 

sábado, 25 de maio de 2013

O silêncio que precede o esporro

Por Analice Paron


"Quem cala consente".

Ta aí uma frase que a gente fala e ouve sem pensar tanto sobre a questão toda que está em jogo. Isso é um perigo.
Mas falar o tempo todo, questionar e contestar a todo instante não é no mínimo inconveniente?

Ok, cada situação pede uma postura. Só que as vezes tenho a impressão que apesar do mundo poder gritar mais (lembra do grito no vazio da web... então) as pessoas acabam ficando mais "ovelhinhas" para algumas coisas.

Por exemplo, questionar uma voz de autoridade. Professor, economista, jornalista, a capa da Veja. São algumas das figuras que raramente alguém aponta o dedo e diz "não, eu não concordo". Eu estou ignorando todos os casos de alunos que confrontam professor, ameaçam de morte e furam o pneu do carro. A minha realidade é um pouco diferente. Eu convivo com professores universitários bastante renomados. Não estou fazendo desse texto um panfleto confessional de crítica em relação aos meus mestres. De forma alguma. JURO!

A questão é outra. A questão é sobre formação crítica, verdadeiramente critica. Como não virar a Hermione  e não parar de mostrar que sabe e que também pode falar sobre determinado assunto. E por outro lado, não se comportar como receptores momentaneamente passivos.

Focando na relação aluno-professor, pensando em um cenário bem demarcado: uma Universidade bem colocada, uma aula na área de humanas com a proposta de aprender a colocar ideias em forma de notícia. O tema é uma discussão sobre a cobertura da mídia da bomba que explodiu em Boston, nos Estados Unidos. Alunos perguntam sobre como proceder, como escapar dos clichês informacionais, como fugir da fonte oficial. O professor responde criticando os jornalistas em atividade - e também o sistema que fabrica as notícias.

Em que lugar pretendo chegar com isso? É que de um modo ou de outro a crítica era para a nossa formação - alunos que estudam para serem os futuros profissionais que estarão na cobertura de um fato como esse. E como escapar de toda a confusão? A resposta parece surgir: tendo pensamento crítico.

béééh 
Essa volta toda leva ao começo da confusão toda: como ter pensamento crítico sem questionar a torto e a direito? Qual o limite entre a inconveniência e a inteligência? Acho que essa pergunta perturba não só a jornalistas como também a outras profissões. Confesso que isso me perturba enquanto pseudo adulta, me pergunto qual tipo de gente grande quero ser...

Sobre o limite, semanas atrás eu e Ana ouvimos uma coisa muito legal: se não tiver limite não terá muro pra pular. De um jeito bem estranho isso parece casar com o dilema do pensamento crítico. Talvez para ser alguém que pensa e que sabe demonstrar que pensa, a gente tenha que pular o muro da recepção padrão o tempo todo. Tenha que transpor o comportamento esperado para aquela situação. Talvez seja assim o melhor jeito de aprender.

Acho - e mais uma vez vou reforçar o quão opinativo é esse texto e esse blog, não sou dona de verdade alguma - que para ser alguém diferente hora ou outra a gente vai ter que expor nossas ideias e o que pensamos sobre tudo o que falam, escrevem, mostram pra gente. O nosso muro pode estar ai. Pulá-lo pode não mudar em nada a situação. Mas pode fazer a gente crescer um bocado. Pensar um pouco maior.

Ao menos a gente terá gritado e alguém poderá ter ouvido.


Achei que essa música fosse do álbum da referência do título mas não. Mas é uma música legal.

"Quando estivermos na frente do reto
  Fica esperto
  Calado e quieto"






quinta-feira, 23 de maio de 2013

É isso ai

Não, não é uma invasão, um hacker, um marciano atacando o blog da Ana. Não. É mais uma Ana, cheia de confusões, dúvidas e todas as apresentações clichês que envolvem pessoas com alguma perturbação psicológica. Eu tava com alguma coisa muito genial pra próxima frase mas esqueci!
Enfim (um dos meus vícios de linguagem favoritos e super usados por pessoas acadêmicas, é requinte) além de eu ter esquecido a frase genial eu ainda fui sacaneada pela tecnologia. Escrevi uma batalhão de texto, terminei a 1:30 da manhã e ai ai internet caiu. Só que o blogspot só salvou o primeiro parágrafo.
Juro que era alguma coisa maneira. Não estou reclamando gratuitamente. Mas vamos dizer que minha estreia foi um tanto quanto problemática.

Talvez seja por isso que eu estou aqui afinal. Pra gritar sobre problemas, ou gritar sobre soluções, ou só gritar e gritar. Depois ficar quieta. No texto original rolava uma reflexão sobre a internet como possibilidade de megafone. A gente fala sobre o que quer falar, o que precisa falar o que é necessário falar... mas quem lê? Quem ta ai do outro lado? Será homem, mulher? Ta triste? Ta feliz? Será que esta comendo? Porque cargas d´água resolveu parar e ler isso? Achou o blog por acaso e resolveu ver do que se tratava? Será que tem alguém aí? Mas precisa ter alguém  aí? A gente ta gritando pro vazio sem lei, fonteira e real que é a internet. O nosso grito faz diferença? O que dá pra fazer com um grito desse?

Será que posso mudar alguma coisa? Escrever, pensar e provocar discussão sobre algum tema não é despertar a atenção para ele? Só isso já faz diferença. Será? Gosto de acreditar que sim.

Então aqui vai ser um terreno pra falar sobre as grandes inquietações da contemporaneidade? Provavelmente não. Acho que nenhuma de nós duas ou das pessoas com as quais a gente convive sabe muito bem usar um ábaco ou passar uma camisa social, imagino que resolver as grandes dores do mundo seja algo um pouco mais complexo.

De qualquer forma é um espaço pra alguma coisa e eu to aqui por algum motivo. (Quem eu sou? Porque estou aqui? Pra onde eu vou? Pera.. essa crise já deu, eu acho.) Pode ser porque sou meio "assim" e o blog é meio "assim". Confesso que estou tentando entender essa definição da Ana até agora, no mínimo suspeita.

Aqui é um espaço, mais ou menos democrático - somos duas librianas fascistas e dominar o mundo sempre foi nosso plano secreto, pra falar sobre tudo e sobre nada, pra gritar com o dedo, com o olhar, pra espernear sobre qualquer tema e sobre nenhum tema. E se o melhor que pudermos fazer for ficar em silêncio que seja.

Ninguém sabe muito bem onde tudo isso vai dar. Se vai dar tudo certo quando eu apertar o enter, se não vou ser trolada pela conexão, se o governo da China não vai implicar com a gente, se esse blog vai durar até mês que vem, se não vou ser expulsa amanhã. No fundo a graça pode estar ai. Em não saber o que fazer. Só acho que é nessas horas que a gente ta travado, sem saber pra onde correr, é que a gente deve se lançar. Então que façamos algo. Jogar a inércia de lado e partir pro movimento. O Leonardo, aquele moço Da Vinci, tem uma frase bacana que casa bem com o quase final do texto.

- O movimento é a causa de toda a vida.

Alô, alô, teste 1, 2, 3, teste.

Acho que o canal ta aberto, funcionando. Emissores e receptores estão por aí. Tempo, espaço, dúvidas, preguiça, são tantas as questões possíveis de serem debatidas. O que vem por ai? É só chegar pra ver, esperar pra ver se aparece, ignorar solenemente. Estaremos tentando entender do que tudo isso se trata no fim das contas. Eu acho.


Um amor, uma carreira, uma revolução. Tantas outras coisas que se começam sem saber como acabarão.

Não somos as primeiras, nem seremos as últimas. Sartre já tava ligado nisso.



ps: os porquês devem ter sido usados de maneira completamente impensada, o que era pra ser separado ta junto e o que ta junto ta junto, entenda tudo como licença poética.




                                                                                                                                                               Ana, a lice







quarta-feira, 1 de maio de 2013

Então, taí

Por Ana Luiza Rigueto

Se é para ser pós-moderno, aqui vamos nós. Poucas vezes sigo algum ímpeto: de pensar e realizar, de ter um lampejo e fazer. É raro, é ralo. Mas aqui estou, publicando. Vamos falar, vamos falar de mim, sim, de mim, dos outros, de casos a parte e particulares. Acaso tenha visto meu outro blog declarado, mas não divulgado, o 'Ô ana', perceberá que são coisas completamente diferentes. Mas verá também que eu, 'a' eu, estou lá, de uma forma ou de outra, sempre numa tentativa ou declarando desistência. Ou pedindo trégua. Ou sussurrando. Ou disfarçando. Ou gritando. Tanto faz.

Se é para sermos pós-modernos, que sejamos. Pelo menos aqui. Que esse seja o meu lapso de exibicionismo declarado. Que aqui eu tenha voz, pelo menos a virtual. A mal falada por mim mesma, a desacreditada por mim mesma, a subjulgada por mim mesma. Hoje estou aqui, fazendo o que pensei que não faria, dizendo o que julguei não ser necessário, sendo tão... contraditória. Mas sendo. E por isso abarcando a contradição em plenitude, ou em quase plenitude - porque é virtual, e o que é virtual não é tão pleno assim (e nessa parte dou vazão a 'eu' que pensa que tudo deve ser vivido em particular e com poucos para ser pleno). Mas estou falando por meus pensamentos. E isso quase me basta - quase, porque é virtual.

Eu não faço a menor ideia do que eu tô fazendo com a minha vida.

Pode pular pro minuto 2:35 da música, que é a parte que importa.