terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Concha

Por Ana Luiza Rigueto

Depois de muito tempo condensando, condensando, condensando, parece que a ideia do segredo perde alguma coisa da urgência de ser segredo. Perde um pouco do etéreo, da dívida consigo mesmo de manter-se a salvo. Depois de algum tempo – o que for suficiente, o segredo parece tão palpável que assemelha-se a uma esfera maciça, tangível e lustrosa. Ao tomá-lo na palma da mão, pode-se pensar até que ele, o segredo, dissociou-se de seu dono, que pensa: “isto não é mais meu, é só uma coisa que levo, uma coisa sólida, uma coisa estabilizada. Já aceito tanto essa coisa, que nada que vier dela me afetará. Quero que alguém mais tome conhecimento disso”. Pensando assim, com a esfera maciça na mão, o dono do segredo, que não é mais segredo, é só um objeto levado, estende a mão a alguém próximo de si, que olha e não entende. Daí o tal dono assente com a cabeça, como quem diz “pega”, e o outro apara a mão pra receber a esfera-segredo. “Era isso que eu levava esse tempo todo. Agora é seu também, se não se importa. Se se importa, não tem problema. Não me importo por nós dois.”

No final das contas, não importa. Nada importa tanto. No final das contas, tanto faz. “Toma, pode ficar”. Era só um anel, era só um texto, era só uma sombra, era só a juventude, era só um medo passageiro. No final das contas, era só uma vontade de sentir medo pra preencher a vida. Um medo tão grande de sucumbir ao nada, que nossas vidas pareciam engajadas por um motivo – todos juntos, temíamos e nos sentíamos confortados pelo temor do outro. No final das contas, a esfera vira uma pluma, ou uma pedrinha transparente, ou uma concha. Tanto faz.

No final das contas, aquela viagem nunca sai e nossas vidas mudam mesmo assim. Ou sai e nos muda ou não. No final das contas estamos em cima de um camelo no meio do deserto nos sentindo saudosos da época em que sentávamos no meio-fio depois da última aula. No final das contas, quem escolhemos nos escolhe também, sem aviso prévio. E o resto perde um pouco da importância e da urgência  – a única urgência passa a ser uma tal casa avarandada... Já houve urgência? Já. E ainda haverá. Mas, justamente agora, tanto faz.

“Assim num dia de verão as ondas se ajuntam, se avolumam e caem; se ajuntam e caem; e o mundo inteiro parece dizer “é só isso” em tom mais e mais pesado, até que o coração dentro do corpo deitado ao sol na praia diz também, é só isso. Não temas mais, diz o coração. Não temas mais, diz o coração, entregando seu fardo a algum mar, que suspira coletivamente por todas as dores, e se renova, começa, se ajunta, deixa cair. E apenas o corpo ouve a abelha passando; a onda quebrando; o cão latindo, muito longe latindo latindo.”
             

                                 



quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Contraproducente

Por Analice Paron


Seria equivocado eu afirmar algum tipo de certeza baseada em impressões de um instante qualquer que passou. Tudo não passa de lembrança. Um carimbo frouxo daquele breve ensejo. Seria perigoso colocar alguma fé em vestígios parcos de um pensamento distante mas que volta e meia se manifesta. 
Seria estranho acreditar que a constância do retorno de qualquer ideia ligada ao já supracitado fato tem algum motivo específico para tamanha insistência. 
Seria... 
Tantas outras questões se tornariam pretérito imperfeito ou mais-que-perfeito sem nunca terem sido alvo do fabuloso mundo da contestação.
E teriam sido deixadas lá - todas as questões - em processo abortivo, se não fosse a mania da desobediência cognitiva. 
Uma insurreição de princípios de orações e fragmentos de frases. Aglutinados em poderoso seres pensantes: ideias fixas. 
Me surpreendo colocando com tamanha voracidade e veemência esses traços dançantes no papel (ou esses toques insistentes na tela no notebook). Registrar esse processo do qual sou autora e vítima é uma experiência nova. Ao menos nunca tinha organizado os termos dessa maneira. 
Não pretendo, através desse texto, declarar nada. Muito menos pedir algo, a sua atenção já estava incluída na proposta. Talvez essas linhas sejam apenas um jeito de melhorar a celeuma em que as tais ideias fixas se encontram. Por conseguinte, eu me encontro. Talvez, por meio desta, fique comprovada minha necessidade quase patológica de ser egocêntrica. Deveria procurar ajuda especializada. Ou não. 
Sem tantas delongas, não tanto quanto seja possível evitar, o primordial é discorrer sobre o papel do tempo  na minha (mais um traço patológico, anotado) percepção do mundo e dos encontros da vida.  
Como já dito, a partir de um novo prisma ótico é possível traçar um parâmetro entre os acontecimentos. 
Encontro, espera, desencontro. 
Acho que é preciso alterar a ordem: 
Desencontro, espera, encontro, desencontro, espera... tenho um palpite sobre o que vem em seguida. Se a vida fosse uma projeção aritmética ou geométrica uma fórmula resolveria todo o dilema. Mas não é, amém. Existem seres iluminados que acreditam piamente na regra de três para encerrar o caso. Não faço parte desse grupo, definitivamente. 
A dúvida permanece e assim será. 
O que vejo de forma nítida e clara é uma grande árvore de caminhos quase incontáveis se abrindo a cada instante. O que fazer se não explorar incansavelmente a pluralidade de mundos, aos poucos desvelados logo aí, bem à sua frente?
Os desencontros, encontros, esperas, seguidas de mais encontros e outros tantos desencontros, continuam em um ciclo absoluto. 
Quanto a mim, acredito que depois de um desencontro, uma espera, muitos encontros virão. 
Ficarei atenta às esquinas, às curvas, aos acenos nas janelas. 
Conquanto, o relógio não dará trégua e a vida seguirá sua dança cotidiana, as vezes intercalada por passos de uma valsa leve, outras vezes continuada a marcha de mil generais, custo a não desconfiar do imponderável. Ouso arriscar. 
Não existe momento certo ou errado para a casualidade do destino ou para a coincidência de um mapa astral. Existe a vontade universal das estrelas. 
Imagem de We Heart It
Não sei se um planeta em uma constelação pode ser considerado um fenômeno raro. Penso que não faz parte dos domínios do acaso. 
E essa certeza - afirmar tamanha convicção pode soar contraproducente, mas o que é a vida sem um pouco de risco, ainda mais risco poético - enfim, essa certeza me faz sorrir e é bom. 

Não foi, nem vai ser. É. 


                                                                                                                                   


quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Livre para voar?

Por Analice Paron


O coração da gente deve ser igual a passarinho, deve precisar ficar dentro do ninho, é pequeno de mais
para voar. O coração da gente deve ser bem miudinho, feito uma semente de alguma flor que deu no mato.
Talvez esse texto pretenda ser romântico em algum sentido. Talvez não. Eu nunca sei o que esperar quando começo a escrever nessa página. Nunca sei muito bem o que esperar quando começo a escrever um texto mais "livre".

Acho que já estou começando a ficar habituada a urgência da pauta, a necessidade de uma temática, a precisão de uma orientação. Acho que isso não é bom. Realmente isso não me faz tão bem. Mas então o que fazer?

Já me fiz essa pergunta tantas vezes essa semana... acho (de novo) que essa é A pergunta do ano de 2013. E a resposta dela tem norteado quase todas as minhas decisões: eu não faço a menor ideia. Desde o nome desse blog até quando alguém me pergunta se eu gosto mais de torta de limão ou torta de maracujá. Pior que isso é quando esse mesmo alguém inclui nas possibilidades uma fatia caprichada de torta de chocolate. Não, aí é de mais.

Na maioria das vezes eu quero todas, um pouco de cada, para provar e depois decidir com mais certeza. Se bem que acho que o bom mesmo seria poder comer tudo de todas, mas aí provavelmente eu passaria mal. Ou não. Ou só engordaria. Ah, quem se importa?!

Mas na prática não estou falando de tortas - quem me dera. Na prática o problema é vital. É cotidiano. Tem a ver com tudo o que está acontecendo aqui e agora. Em uma coisa que as pessoas insistem em chamar de "minha vida".

Tá, ok, essa última frase ficou um pouco revoltada. O problema é que, talvez não seja um problema tão grande assim, mas a questão toda é que eu sinceramente não sei mais o que pensar sobre uma escolha profissional. Todo mundo diz (eu me inclui nesse grande grupo de pessoas) que é super normal não saber direito o que fazer da vida profissional, que é normal ter dúvidas e que não da para achar que você vai infartar de felicidade no seu ambiente de trabalho. "Sempre terão coisas chatas para fazer, pessoas insuportáveis para lidar e blá blá blá". É o que TODO mundo SEMPRE diz.

E eu me revolto quando ouço isso. Por que a gente tem que se conformar? As vezes parece que ser adulto é ter que se conformar! Eu não quero isso! Não quero acordar todos os dias e pensar "droga, tenho que trabalhar". Será que é pedir muito? Será que não posso almejar isso? E se eu quero isso, será que não posso pautar minhas escolhas pensando nisso? Então, afinal, eu fiz a escolha certa? Eu quero trabalhar com o que estou trabalhando? Quero acordar todos os dias e pensar em uma matéria, escrever um texto, postar em algum site, publicar em alguma revista, colocar no ar em algum canal. Será isso mesmo?
Será que está muito cedo para decidir? Muitos dirão que sim, acho que a maioria das pessoas mais velhas. Mas o tempo não esta passando diante dos meus olhos enquanto eu não posso fazer mais nada exceto torcer para continuar respirando?
Aí vem algum cidadão e me diz que eu tenho que correr para me formar, correr para trabalhar, correr para tentar AQUELA vaga imperdível naquele canal dos sonhos...

Não quero correr. Quero? Alguém quer? Alguém tem um plano milimetricamente traçado e que está seguindo direitinho? Existe uma fórmula?

No fim das contas eu já pensei isso tudo e já esbravejei sobre todos esses questionamentos, mas eles simplesmente não param de me atormentar. Não sei até que ponto isso é saudável. E não sei se valem a pena. Droga, mais um "não sei". Vou fazer um exercício e tentar falar menos "não sei". "Acho", "talvez", "meio que sim", deveria tentar excluir todas essas expressões.

Será mesmo?
Relativizar é uma boa forma de pensar mais a respeito. Acho que não quero mais pensar, talvez seja melhor ficar quietinha, meio que esperando, ou só respirando.

Deixar a vida tomar as rédeas da situação e eu ir nadando com a maré... Um plano muito tentador. Mas não o que eu escolho. Essa certeza eu tenho.

Mas e aí? Escrevi, escrevi e não cheguei a lugar algum. De repente o texto ficou um bocado repetitivo. A melhor solução é colocar a cara no travesseiro e gritar, tomar um banho gelado, dar um mergulho no mar.

Voltar a pensar no passarinho, pequenininho, aquele que deveria sair do ninho e voar por outras paragens.

Dizem que um coração ousado vai mas longe. Será?



domingo, 1 de setembro de 2013

Settembre

Por Ana Luiza Rigueto

Setembro chegou. Não vou perder meu tempo dizendo que foi rápido, que eu nem vi o tempo, que daqui a pouco é Natal, que já daqui a pouco faço outro aniversário. Deixemos isso pra uma hora mais entediante. Nem vou dizer que não faço a menor ideia do que eu esteja fazendo, ou vá fazer, com a minha vida. Isso é tudo meio entediante.

O que tenho para dizer é que outro dia abri minha água com gás especial, a San Pellegrino, uma água italiana antiga, tradicional. Também soa bastante entediante. Mas o fato é esse mesmo. Bem, em primeira pessoa está tão banal quanto eu previa. Deixa ver se assim vai:

A água com gás italiana estava guardada há uns meses, a espera de uma refeição à altura para poder ser aberta. Não se via aquela água em qualquer supermercado, então não poderia desperdiçar com uma comida banal – gostava muito de comer, gostava mesmo. Mas a água estava guardada há tanto tempo, talvez fosse melhor bebê-la logo. Então, vou abrir, Ana pensou. É melhor beber logo, mesmo que seja com esses pastéis, e são pastéis gostosos, então está bem.
Minerale naturale, capito?

Ana colocou os pastéis no prato, foi até a geladeira e pegou a garrafinha de vidro verde transparente. Abriu. Bebeu. Um, dois goles. Estava praticamente sem gás algum. Afastou a San Pellegrino do rosto, examinou para ver se as borbulhinhas estavam subindo e quase borbulhinha nenhuma subia. Sem gás, lamentou. Não podia reparar o fato de não tê-la consumido antes, enquanto ainda estava boa e fresca.

Bebia um gole da água. Mordia um pedaço de pastel. Mastigava. Enquanto mastigava, pensava, parece que influenciada por algum acontecimento anterior, já que mastigar pastéis e beber água com pouco gás, genuinamente, não justificam tais divagações. Essa minha mania de deixar o que julgo ser muito especial para um momento perfeito, pensou. E a San Pellegrino já sem gás, sem graça, ali à mesa.

Comeu os pastéis, gostosos. Bebeu a água até a metade, a outra metade jogou fora, já não estava boa. Essa mania que tenho de deixar o que julgo muito especial pra um momento perfeito. Guardei essa água tanto... O fato é que Ana já não pensava na água. A água encontraria outra vez, n’outro supermercado. Ana tinha em seus pensamentos alguma outra questão, outro episódio, alguém, uma coisa, sabe-se lá.

“E quando finalmente vou desfrutar dos goles que tanto esperei, e até prendo o fôlego, porque estou crendo que serão inesquecivelmente marcantes, acabo por pensar: cadê o gás?” Não era mais da água. Pode-se arriscar que se tratava do tipo de coisa que guarda em si alguma potência. Essas coisas que devem ser desfrutadas, compartilhadas, tocadas, expostas, sentidas enquanto ainda borbulham, enquanto ainda tem bolhas querendo subir pela extensão da garrafa.

Tão voláteis, Ana concluiu. E eu ainda tento protelar, deixar pra depois, numa garrafinha de vidro verde transparente para um jantar especial. É que Ana tentava fazer da potência promessa. Se fica guardado por muito tempo, intocado, parecendo que precisa esperar, esperar, esperar... Uma hora pode perder a força, Ana raciocinava, absorta, esquecida da San Pellegrino.

Levantou-se, saiu da cozinha, foi para o quarto. Ligou seu computador e pensou. Escreveu, escreveu, tentou relatar um pouco para não se esquecer. E por último digitou assim, algo que não levava aspas porque era seu:

Que eu beba a água com o máximo de gás – o momento especial estará, precisamente, nisto.




sexta-feira, 12 de julho de 2013

Epifania do período

Por Analice Paron


Eu tô aqui, quase clandestinamente. Sem saber muito bem o que fazer mas com uma vontade louca de compartilhar. Não sei se é certo querer compartilhar o que eu tanto quero, deve ser uma característica da minha geração...
É que de repente senti uma vontade imensa de ser feliz
de cantar
de dançar
de correr
de gritar bem alto que tudo realmente, em algum momento, vai ficar bem
em algum milésimo de segundo o coração aquieta e dá pra respirar sem a sensação de que o ar está fugindo dos pulmões.
É quase uma epifania
um momento no qual tudo parece estar fazendo sentido. TUDO, absolutamente tudo.
Dá para se sentir bem até com a espinha que resolveu nascer na ponta do nariz, afinal, se olhar rápido ela parece uma pinta charmosa.
                              Hoje, agora, nesse instante o universo aparenta estar funcionando e a minha vontade é de sorrir porque o mundo continua em sua excêntrica órbita.


                                                                    de repente.


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Isso deve ser um dia de entrega de trabalho no final do período. Segunda-feira irei abraçar estranhos na rua, provavelmente.




                                                                                                                           

segunda-feira, 27 de maio de 2013

Pela rua povoada

Por Ana Luiza Rigueto

Esqueço tudo que lembrar devia, porque te li e lembro esta leitura. Na verdade, isto são versos de um dos meus poemas preferidos. Queria muito tê-los escrito eu mesma. Talvez os tenha posto logo ali para, por um instante, eles serem meus, meus, meus. Desde uns dias que eu tô quicando por dentro. Uma ameaça de ebulição que não evolui. Pareço prestes a ter ímpetos criativos, e nada. Deve ser porque esqueço tudo que lembrar devia.

Achei graça de lançar um blog sob certo ar de coisa oficial, que após alguma preparação vem a público. Deu até um nervosinho na gente. Amigos falando que gostaram, conhecidos aprovando. Foi engraçado. Só um blog, eu sei, mas foi engraçado.

Tão alva essa riqueza a espojar-se nos circos sem perda ou corrupção. Outros versos de um de meus poemas preferidos. Outro dia pensando neles eu entendi alguma coisa, apreendi mesmo. Não sei se sou capaz de transcrever o que foi, mas foi luminoso – alvo e rico.

“Tão alva essa riqueza
a espojar-se nos circos
sem perda ou corrupção.”

Vai o meu elefante, pela rua povoada

Como se uma riqueza tão plena e sincera tivesse sido alcançada e, assistida de perto e por muitos, fosse submetida ao desgaste, e se misturasse, e convivesse, e se expusesse sem se perder ou sentir-se espoliada. Uma coisa naturalmente corajosa e disposta. Talvez eu esteja descrevendo alguém, não sei, talvez eu tenha personificado a riqueza. Consigo imaginar um sorriso tão bonito que reja todas as situações, e mova o mundo, porque não se abala. Porque esse sorriso, apesar de toda a fraude, consegue ser.
 
Espero poder ser com essa riqueza. E exprimir como seu eu tivesse sorrindo esse riso forte. E espojar-me sem perda ou corrupção.


                                                 

sábado, 25 de maio de 2013

O silêncio que precede o esporro

Por Analice Paron


"Quem cala consente".

Ta aí uma frase que a gente fala e ouve sem pensar tanto sobre a questão toda que está em jogo. Isso é um perigo.
Mas falar o tempo todo, questionar e contestar a todo instante não é no mínimo inconveniente?

Ok, cada situação pede uma postura. Só que as vezes tenho a impressão que apesar do mundo poder gritar mais (lembra do grito no vazio da web... então) as pessoas acabam ficando mais "ovelhinhas" para algumas coisas.

Por exemplo, questionar uma voz de autoridade. Professor, economista, jornalista, a capa da Veja. São algumas das figuras que raramente alguém aponta o dedo e diz "não, eu não concordo". Eu estou ignorando todos os casos de alunos que confrontam professor, ameaçam de morte e furam o pneu do carro. A minha realidade é um pouco diferente. Eu convivo com professores universitários bastante renomados. Não estou fazendo desse texto um panfleto confessional de crítica em relação aos meus mestres. De forma alguma. JURO!

A questão é outra. A questão é sobre formação crítica, verdadeiramente critica. Como não virar a Hermione  e não parar de mostrar que sabe e que também pode falar sobre determinado assunto. E por outro lado, não se comportar como receptores momentaneamente passivos.

Focando na relação aluno-professor, pensando em um cenário bem demarcado: uma Universidade bem colocada, uma aula na área de humanas com a proposta de aprender a colocar ideias em forma de notícia. O tema é uma discussão sobre a cobertura da mídia da bomba que explodiu em Boston, nos Estados Unidos. Alunos perguntam sobre como proceder, como escapar dos clichês informacionais, como fugir da fonte oficial. O professor responde criticando os jornalistas em atividade - e também o sistema que fabrica as notícias.

Em que lugar pretendo chegar com isso? É que de um modo ou de outro a crítica era para a nossa formação - alunos que estudam para serem os futuros profissionais que estarão na cobertura de um fato como esse. E como escapar de toda a confusão? A resposta parece surgir: tendo pensamento crítico.

béééh 
Essa volta toda leva ao começo da confusão toda: como ter pensamento crítico sem questionar a torto e a direito? Qual o limite entre a inconveniência e a inteligência? Acho que essa pergunta perturba não só a jornalistas como também a outras profissões. Confesso que isso me perturba enquanto pseudo adulta, me pergunto qual tipo de gente grande quero ser...

Sobre o limite, semanas atrás eu e Ana ouvimos uma coisa muito legal: se não tiver limite não terá muro pra pular. De um jeito bem estranho isso parece casar com o dilema do pensamento crítico. Talvez para ser alguém que pensa e que sabe demonstrar que pensa, a gente tenha que pular o muro da recepção padrão o tempo todo. Tenha que transpor o comportamento esperado para aquela situação. Talvez seja assim o melhor jeito de aprender.

Acho - e mais uma vez vou reforçar o quão opinativo é esse texto e esse blog, não sou dona de verdade alguma - que para ser alguém diferente hora ou outra a gente vai ter que expor nossas ideias e o que pensamos sobre tudo o que falam, escrevem, mostram pra gente. O nosso muro pode estar ai. Pulá-lo pode não mudar em nada a situação. Mas pode fazer a gente crescer um bocado. Pensar um pouco maior.

Ao menos a gente terá gritado e alguém poderá ter ouvido.


Achei que essa música fosse do álbum da referência do título mas não. Mas é uma música legal.

"Quando estivermos na frente do reto
  Fica esperto
  Calado e quieto"






quinta-feira, 23 de maio de 2013

É isso ai

Não, não é uma invasão, um hacker, um marciano atacando o blog da Ana. Não. É mais uma Ana, cheia de confusões, dúvidas e todas as apresentações clichês que envolvem pessoas com alguma perturbação psicológica. Eu tava com alguma coisa muito genial pra próxima frase mas esqueci!
Enfim (um dos meus vícios de linguagem favoritos e super usados por pessoas acadêmicas, é requinte) além de eu ter esquecido a frase genial eu ainda fui sacaneada pela tecnologia. Escrevi uma batalhão de texto, terminei a 1:30 da manhã e ai ai internet caiu. Só que o blogspot só salvou o primeiro parágrafo.
Juro que era alguma coisa maneira. Não estou reclamando gratuitamente. Mas vamos dizer que minha estreia foi um tanto quanto problemática.

Talvez seja por isso que eu estou aqui afinal. Pra gritar sobre problemas, ou gritar sobre soluções, ou só gritar e gritar. Depois ficar quieta. No texto original rolava uma reflexão sobre a internet como possibilidade de megafone. A gente fala sobre o que quer falar, o que precisa falar o que é necessário falar... mas quem lê? Quem ta ai do outro lado? Será homem, mulher? Ta triste? Ta feliz? Será que esta comendo? Porque cargas d´água resolveu parar e ler isso? Achou o blog por acaso e resolveu ver do que se tratava? Será que tem alguém aí? Mas precisa ter alguém  aí? A gente ta gritando pro vazio sem lei, fonteira e real que é a internet. O nosso grito faz diferença? O que dá pra fazer com um grito desse?

Será que posso mudar alguma coisa? Escrever, pensar e provocar discussão sobre algum tema não é despertar a atenção para ele? Só isso já faz diferença. Será? Gosto de acreditar que sim.

Então aqui vai ser um terreno pra falar sobre as grandes inquietações da contemporaneidade? Provavelmente não. Acho que nenhuma de nós duas ou das pessoas com as quais a gente convive sabe muito bem usar um ábaco ou passar uma camisa social, imagino que resolver as grandes dores do mundo seja algo um pouco mais complexo.

De qualquer forma é um espaço pra alguma coisa e eu to aqui por algum motivo. (Quem eu sou? Porque estou aqui? Pra onde eu vou? Pera.. essa crise já deu, eu acho.) Pode ser porque sou meio "assim" e o blog é meio "assim". Confesso que estou tentando entender essa definição da Ana até agora, no mínimo suspeita.

Aqui é um espaço, mais ou menos democrático - somos duas librianas fascistas e dominar o mundo sempre foi nosso plano secreto, pra falar sobre tudo e sobre nada, pra gritar com o dedo, com o olhar, pra espernear sobre qualquer tema e sobre nenhum tema. E se o melhor que pudermos fazer for ficar em silêncio que seja.

Ninguém sabe muito bem onde tudo isso vai dar. Se vai dar tudo certo quando eu apertar o enter, se não vou ser trolada pela conexão, se o governo da China não vai implicar com a gente, se esse blog vai durar até mês que vem, se não vou ser expulsa amanhã. No fundo a graça pode estar ai. Em não saber o que fazer. Só acho que é nessas horas que a gente ta travado, sem saber pra onde correr, é que a gente deve se lançar. Então que façamos algo. Jogar a inércia de lado e partir pro movimento. O Leonardo, aquele moço Da Vinci, tem uma frase bacana que casa bem com o quase final do texto.

- O movimento é a causa de toda a vida.

Alô, alô, teste 1, 2, 3, teste.

Acho que o canal ta aberto, funcionando. Emissores e receptores estão por aí. Tempo, espaço, dúvidas, preguiça, são tantas as questões possíveis de serem debatidas. O que vem por ai? É só chegar pra ver, esperar pra ver se aparece, ignorar solenemente. Estaremos tentando entender do que tudo isso se trata no fim das contas. Eu acho.


Um amor, uma carreira, uma revolução. Tantas outras coisas que se começam sem saber como acabarão.

Não somos as primeiras, nem seremos as últimas. Sartre já tava ligado nisso.



ps: os porquês devem ter sido usados de maneira completamente impensada, o que era pra ser separado ta junto e o que ta junto ta junto, entenda tudo como licença poética.




                                                                                                                                                               Ana, a lice







quarta-feira, 1 de maio de 2013

Então, taí

Por Ana Luiza Rigueto

Se é para ser pós-moderno, aqui vamos nós. Poucas vezes sigo algum ímpeto: de pensar e realizar, de ter um lampejo e fazer. É raro, é ralo. Mas aqui estou, publicando. Vamos falar, vamos falar de mim, sim, de mim, dos outros, de casos a parte e particulares. Acaso tenha visto meu outro blog declarado, mas não divulgado, o 'Ô ana', perceberá que são coisas completamente diferentes. Mas verá também que eu, 'a' eu, estou lá, de uma forma ou de outra, sempre numa tentativa ou declarando desistência. Ou pedindo trégua. Ou sussurrando. Ou disfarçando. Ou gritando. Tanto faz.

Se é para sermos pós-modernos, que sejamos. Pelo menos aqui. Que esse seja o meu lapso de exibicionismo declarado. Que aqui eu tenha voz, pelo menos a virtual. A mal falada por mim mesma, a desacreditada por mim mesma, a subjulgada por mim mesma. Hoje estou aqui, fazendo o que pensei que não faria, dizendo o que julguei não ser necessário, sendo tão... contraditória. Mas sendo. E por isso abarcando a contradição em plenitude, ou em quase plenitude - porque é virtual, e o que é virtual não é tão pleno assim (e nessa parte dou vazão a 'eu' que pensa que tudo deve ser vivido em particular e com poucos para ser pleno). Mas estou falando por meus pensamentos. E isso quase me basta - quase, porque é virtual.

Eu não faço a menor ideia do que eu tô fazendo com a minha vida.

Pode pular pro minuto 2:35 da música, que é a parte que importa.