domingo, 27 de abril de 2014

De juventude

Por Ana Luiza Rigueto

Sem nenhum estrondo levava a vida. Entre um sentimento e outro, esperava a vida. Na falta de algo melhor, trazia a vida. Com gestos suaves dos dedos, orquestrava a vida. Essa folha ao vento, esse vento, esse asfalto. O dia nublado, o céu ensolarado, as nuvens, a vida. Ser jovem é fácil, a promessa basta. Que nada se realize ainda, basta que haja promessa. Amigos sorrindo, encontros casuais, beleza, a pele lisa, os cabelos bastos, a tatuagem ou não. A juventude encerra em si o que existe de aprazível e conhecido. Ser jovem é bom, e ainda há o amor crédulo. É claro, o amor! Que mais senão ele? Ser jovem e amar é tudo, esse turbilhão, essa importância, esse egoísmo. Nada mais existe no mundo.

Ser jovem não vale de nada. Tolices. Que é um jovem senão um tolo? Os trejeitos de infância ainda, mas dissolvidos, o conhecimento fragmentado de mundo, a arrogância que de tão imanente é absolvida. O amor um dia acaba. Ser jovem não é nada. Que preguiça da juventude, essa ânsia, essa urgência. Melhor sentar e esperar chegar aos 40, aos 60, 70.

Aaaai, aaaai...

A vida ao vento, a vida o vento. Voa, vida, voa, passarinho. Sem nenhum estrondo, bate as asas, levanta voo. Plainando, plainando, até aterrissar. A recém-vida esvoaça, revoa até acalmar. O que faz mover, o que faz andar, é promessa, amor ou os dois. O resto é circo, novela e farsa. O resto é espetáculo pra distrair dos espaçamentos.

O amor rodopia por entre as perfumosas flores. Vai doer, vai doer. As asas agora são de abelha. Vem vindo, vai doer. Vai indo, já doeu. O amor dói mais que picada de abelha na sola do pé. A promessa é sempre um afago, até que se consuma e fim. O amor, entre asinhas abelhais, zunindo. A abelha quando pica logo em seguida morre. Por que tem que acabar? Tudo passa, todo estrondo. Meu Deus. Agora ficou tudo do avesso. Eu nunca soube que estaria do lado de cá. Eu não sei como é estar do lado de cá. É tudo mentira aquilo o que dizem. Sempre desconfiei: é maior quem ama mais.


Era desses que sem nenhum estrondo levava a vida. Porque não alardeasse, porque as vezes até se encolhesse um pouco para não esbanjar a musculatura dos braços, a envergadura do corpo, o vigor das mãos, a precisão do movimento das pernas, a altivez dos olhos vivos e a certeza simples, atraía mais do que desejava. A juventude delicada, gentil. Quem seria dali a uns anos? Que roupas usaria? Como lhe tratariam? Que pessoas ainda teria? Quem mais? Como lhe pareceria a superfície dos dias? Agora era sempre bom, por mais que... Era sempre bom. O dia nublado, o céu ensolarado, as nuvens, a vida. A promessa bastava.





"Meu Deus! Um momento inteiro de jubilo! Não será isso o suficiente para uma vida inteira?..."




Um comentário:

E você? O que ta fazendo com a sua vida?