quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Livre para voar?

Por Analice Paron


O coração da gente deve ser igual a passarinho, deve precisar ficar dentro do ninho, é pequeno de mais
para voar. O coração da gente deve ser bem miudinho, feito uma semente de alguma flor que deu no mato.
Talvez esse texto pretenda ser romântico em algum sentido. Talvez não. Eu nunca sei o que esperar quando começo a escrever nessa página. Nunca sei muito bem o que esperar quando começo a escrever um texto mais "livre".

Acho que já estou começando a ficar habituada a urgência da pauta, a necessidade de uma temática, a precisão de uma orientação. Acho que isso não é bom. Realmente isso não me faz tão bem. Mas então o que fazer?

Já me fiz essa pergunta tantas vezes essa semana... acho (de novo) que essa é A pergunta do ano de 2013. E a resposta dela tem norteado quase todas as minhas decisões: eu não faço a menor ideia. Desde o nome desse blog até quando alguém me pergunta se eu gosto mais de torta de limão ou torta de maracujá. Pior que isso é quando esse mesmo alguém inclui nas possibilidades uma fatia caprichada de torta de chocolate. Não, aí é de mais.

Na maioria das vezes eu quero todas, um pouco de cada, para provar e depois decidir com mais certeza. Se bem que acho que o bom mesmo seria poder comer tudo de todas, mas aí provavelmente eu passaria mal. Ou não. Ou só engordaria. Ah, quem se importa?!

Mas na prática não estou falando de tortas - quem me dera. Na prática o problema é vital. É cotidiano. Tem a ver com tudo o que está acontecendo aqui e agora. Em uma coisa que as pessoas insistem em chamar de "minha vida".

Tá, ok, essa última frase ficou um pouco revoltada. O problema é que, talvez não seja um problema tão grande assim, mas a questão toda é que eu sinceramente não sei mais o que pensar sobre uma escolha profissional. Todo mundo diz (eu me inclui nesse grande grupo de pessoas) que é super normal não saber direito o que fazer da vida profissional, que é normal ter dúvidas e que não da para achar que você vai infartar de felicidade no seu ambiente de trabalho. "Sempre terão coisas chatas para fazer, pessoas insuportáveis para lidar e blá blá blá". É o que TODO mundo SEMPRE diz.

E eu me revolto quando ouço isso. Por que a gente tem que se conformar? As vezes parece que ser adulto é ter que se conformar! Eu não quero isso! Não quero acordar todos os dias e pensar "droga, tenho que trabalhar". Será que é pedir muito? Será que não posso almejar isso? E se eu quero isso, será que não posso pautar minhas escolhas pensando nisso? Então, afinal, eu fiz a escolha certa? Eu quero trabalhar com o que estou trabalhando? Quero acordar todos os dias e pensar em uma matéria, escrever um texto, postar em algum site, publicar em alguma revista, colocar no ar em algum canal. Será isso mesmo?
Será que está muito cedo para decidir? Muitos dirão que sim, acho que a maioria das pessoas mais velhas. Mas o tempo não esta passando diante dos meus olhos enquanto eu não posso fazer mais nada exceto torcer para continuar respirando?
Aí vem algum cidadão e me diz que eu tenho que correr para me formar, correr para trabalhar, correr para tentar AQUELA vaga imperdível naquele canal dos sonhos...

Não quero correr. Quero? Alguém quer? Alguém tem um plano milimetricamente traçado e que está seguindo direitinho? Existe uma fórmula?

No fim das contas eu já pensei isso tudo e já esbravejei sobre todos esses questionamentos, mas eles simplesmente não param de me atormentar. Não sei até que ponto isso é saudável. E não sei se valem a pena. Droga, mais um "não sei". Vou fazer um exercício e tentar falar menos "não sei". "Acho", "talvez", "meio que sim", deveria tentar excluir todas essas expressões.

Será mesmo?
Relativizar é uma boa forma de pensar mais a respeito. Acho que não quero mais pensar, talvez seja melhor ficar quietinha, meio que esperando, ou só respirando.

Deixar a vida tomar as rédeas da situação e eu ir nadando com a maré... Um plano muito tentador. Mas não o que eu escolho. Essa certeza eu tenho.

Mas e aí? Escrevi, escrevi e não cheguei a lugar algum. De repente o texto ficou um bocado repetitivo. A melhor solução é colocar a cara no travesseiro e gritar, tomar um banho gelado, dar um mergulho no mar.

Voltar a pensar no passarinho, pequenininho, aquele que deveria sair do ninho e voar por outras paragens.

Dizem que um coração ousado vai mas longe. Será?



Um comentário:

  1. Amo o blog de vocês. Amo ler aqui um pouco de cada, se bem que o bom mesmo seria tudo de todas (e eu nem passaria mal).
    "Será que é pedir muito? Será que não posso almejar isso?" O canto do seu passarinho é de quem quer voar. E se afinal for mesmo pedir muito, eu fico com o manifesto surrealista que diz "Seja realista: exija o impossível!". E você?

    Beijos de limão, maracujá e chocolate!

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E você? O que ta fazendo com a sua vida?